segunda-feira, 11 de junho de 2007

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O desesperado, um relógio e a lei da atração.



Como todos sabem sou um grande fã de Los Hermanos. Mas o que eu não sabia era o que eu seria capaz de fazer para poder ver o último show deles (bate na madeira três vezes), após o anuncio do recesso da banda.

Ando numa dureza danada, desempregado, sem grana mesmo. E não consegui me organizar para comprar um ingresso. Assim fui levando, condicionando minha mente para não me frustrar com os comentários de amigos sobre “o grande show dos Hermanos”. Ainda havia um fio de esperança em mim de que na ultima hora eu arranjaria dinheiro e iria ao show, mas desesperei-me em ver que os ingressos se esgotaram rapidamente. Entreguei-me enfim a idéia de que dos três shows eu não assistiria nenhum. Autodistrai-me, talvez propositalmente. Encontrava-me ainda numa onda de negatividade extrema que começou a dissipar-se somente com o sucesso das filmagens onde fiz a direção de arte, juntamente com minha querida Carol Motta, do filme “Hoje tem Ragú”, produzido na Estácio. Comecei a projetar coisas boas para mim. Um emprego ainda não surgiu, mas não me desespero por que sei que vou crescer ainda mais até o final do ano.

Nesse meio tempo, onde já começava a direcionar meus pensamentos para coisas boas, assisti o documentário “O segredo”, baseado no livro homônimo. No filme é discutida a lei da atração. Minhas esperanças aumentaram vendo que possivelmente estaria no caminho certo ao projetar minha mente para o que eu queria. Algo que queria muito e que pensei muito para ter de volta aconteceu, sim era o caminho. Mostrei o documentário para um amigo meu, Felipe. Como eu, ele começou a projetar seu pensamento. Ele queria muito ver o ultimo show dos Hermanos. Mas como? Não sabíamos. Ele lembrou que conhecia algumas pessoas que poderiam nos levar a conseguir ingressos.

Sábado, dia nove de junho de dois mil e sete. Acordei, agradeci, levantei-me e pensei mais uma vez no show. O que fazer? Qualquer coisa. Pensei então numa solução desesperada para minha situação. Fim de tarde. Nenhuma resposta do Felipe. Liguei então.

- E aí cara?
- Porra, o André esqueceu o telefone da menina no trabalho...
- Caralho... E agora...
- E agora nada, né?
- Felipe, eu tenho uma idéia meio idiota.
- Hum...
- Cara, eu tenho um relógio aqui, presente de uma amiga da minha mãe que morava na Suíça.
- Hum...
- Então, ele deve valer uns setenta dólares, vou tentar trocar por três ingressos.
- Ta falando serio?


Voltei para meu quarto e falei com minha irmã e com suas amigas para conversar com algum cambista por lá para ver se a troca seria possível. Um pouco antes da saída delas o Felipe me liga:

- Po, brother, acho que essa parada de relógio é viagem sua, cara...
- Ai... Será?
- È Tunai, vamos fazer outra parada.

Desliguei o telefone e voltei para meu quarto e sentei em frente ao pc. Minha irmã sai com as amigas e eu fico só. Algum tempo depois me liga Yolanda, amiga da Tainá.

- Tunai...
- Hum...
- Falei com um cambista, qual a marca do relógio?
- Tissot.
- Tissot! – grita pro cambista – ele falou que troca sim, mas quer dar uma olhada, saí daí agora.


Não lembro de ter dado uma gargalhada tão gostosa. Sai correndo pro banheiro, tomei um banho apressado e sai rumo à lapa. Chegando lá encontrei as meninas e fui apresentado ao cambista.

- Aqui o relógio.
- Po cara, tou vendo que é original e tudo... Mas não dá pra fazer três ingressos não...
- Tá... Mas tem como fazer um desconto no 3º ingresso?
- Faço por sessenta reais.
- Valeu cara, eu vou tentar com outros cambistas.

Encontrei um grupo de cambista bem estranhos, que olharam e olharam o relógio, mas não aceitaram. Encontrei então um ser humano que percebeu meu desespero. Contei a historia do relógio.

- Cara... Fazer por três é foda... Eu faço o 3º por 40 reais. Vou aceitar no escuro seu relógio...

Aceitei então. Já que o esse era o preço que teria pagado na meia-entrada. Coloquei os três ingressos no meu bolso e aliviado comprei uma cerveja para brindar ao universo por que eu iria assistir um show que vou guardar na lembrança para sempre. Felipe e Talita chegaram. Abracei o Felipe, lembrando do dia anterior nós dois conversando:

- Nós vamos nessa porra... Vamos ao show cara...


Eles chegaram a comentar o meu desprendimento com coisas materiais, mas não se trata bem disso. Adoro conforto, coisas bonitas, sofisticados, dinheiro. Mas naquele momento o relógio era meu caminho para o show. Não uso e nem gosto de relógios, ainda mais um com detalhes em ouro. Era algo que não me representava. Para mim, perto dos momentos em que eu vivi assistindo ao show da banda brasileira que mais gosto, aquele objeto perdeu totalmente seu valor.


O show chegou perto da perfeição. Ver a emoção dos músicos ao despedir-se um do outro e da banda ao publico não teve preço. Encontrar vários amigos meus lá, que por coincidência ou culpa da lei da atração, nos esbarramos pela vida e nos descobrimos igualmente fãs de Los Hermanos.

Acordei feliz no domingo. E agradeci mais uma vez ao universo.