quarta-feira, 28 de abril de 2010

Post # 2 8 “A grande fábrica de Desejo”

"Filmes e rádio não têm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes de ideologia. Esta deverá legitimar os refugos que de propósito produzem. Filme e rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos."

Max Horkheimer e Theodor W. Adorno ("Dialética do Iluminismo" 1947)



Começo citando um trecho deste texto e passo a comentar sobre um simples conversa de bar que culminou em uma discussão. Um grupo de amigos e eu falávamos sobre trivialidades da vida e acabamos no assunto “moda”. Mal percebemos o mundo em que nos cerca e um assunto tão descabido ao momento tem tamanha ligação com cinema, entre outras formas de se expressar artisticamente.



Tudo hoje em dia é industrializado e voltado para a massa. Uma simples necessidade, a de vestir-se, acaba de alguma maneira provocando desejos em nós criando assim outra necessidade: status. Vestir-se bem para conquistar mulheres, conseguir um emprego em uma entrevista, etc... Numa simples conversa de bar percebo a quão disseminada está à idéia do capitalismo: não somos nada se não pudermos ter.



E assim como “tudo podemos ter” instaurou-se a Industrialização da cultura, onde toda e qualquer obra artística se converte em mercadoria. Isso me remete a Andy Wharhol onde genialmente criticava em suas obras justamente a industrialização da arte, como vemos na imagem abaixo quando ele reproduz diversas notas que por sua vez serão trocadas por dinheiro de verdade:



A fotografia, por sua vez, o Cinema, surgiu da necessidade de registrar momentos. Assim como a necessidade de usar vestimentas. Criaram-se em cima disso outras necessidades e desejos o que culminou numa grande corrida por desenvolvimento tecnológico.



Herbet Marcuse criticava o descontrole do uso da tecnologia por justamente se sobrepor a razão, a individualidade da obra de arte. Questionou em quase toda obra as “possibilidades” e “necessidades” por trás dos desejos. Equiparando a Indústria cultural dos países capitalistas ao nazismo e ao stanilismo. Tudo então não passa de controle e política?



Adorno e Horkheimer, citados no inicio do texto, consideravam uma “perversão” ao Iluminismo, que pregava a favor liberdade do pensamento e de se livrar de velhos mitos através do uso das novas tecnologias e da razão. Como sabemos o nazismo fez escola, no sentido de uso da propaganda. Foi um dos primeiros movimentos a usar em larga escala a propaganda para a disseminação de sua doutrina nos meios de comunicação de massa. Membros da Escola de Frankfurt e judeus se viram acuados pelo uso da propaganda para escravizar o pensamento e alienar a massa. Estaria ali criada uma nova arma de dominação: o uso de intervenções tecnológicas para disseminar ideologia e alienar as pessoas.


Hoje em dia, culturalmente, nos vemos dominados pela escola norte-americana, onde cada vez mais o objeto é fragmentado para obter lucro em curto prazo. É tudo voltado ao lucro... O cinema americano se tornou um grande Mc Donalds aonde em poucos minutos você pode consumir pequenas porções de comida com grande quantidade de calorias que no fim não vai te fornecer os nutrientes necessários.


O produto final é pautado nas expectativas do consumidor, mas não necessariamente a particularidade de cada ser é respeitada. Comparando a moda o cinema americano é de “tamanho único”. Criou-se uma grande fabrica onde o único vislumbre é atingir a todos de forma com que tudo é padronizado, receita de bolo com apenas duas finalidades: controlar e ter lucro.



Hoje em dia o pensamento é banalizado. O discurso é construído de forma perversa. Torna-se um circulo vicioso aonde somente nos produtos Hollywoodianos será fonte de tal requinte inalcançável.

Aqui no Brasil, por exemplos, temos a Rede Globo, onde dramaturgicamente, politicamente e industrialmente comparo a Hollywood. Porque a maioria da classe baixa não gosta de se ver nas novelas produzidas? Acho perversa a maneira como grandes produtoras audiovisuais lidam com o desejo das pessoas e criam nela ainda mais esse desejo de ter coisas e assim, também, tornam-se o único meio ou via de ser ter tais coisas. Ou vislumbrar tais coisas.

No fim, uma obra cinematográfica acaba se comparando ao um simples tênis All Star: produtos populares, de fácil acesso, mas que nem sempre terá uma grande qualidade.

3 comentários:

Barthô Tarsus disse...

parabéns pelo trabalho e pela nota, tuntz! realmente o texto ficou 10! =]

Unknown disse...

Gostei do raciocínio e do texto!

Autor disse...

Acredito, que por mais cruel que possa ser, a moda move o mundo.
Ser aceito, querido e se enquadrar em um grupo é inerente ao ser humano e, até mesmo os que fogem da moda, acabam inventando uma moda própria.
Quanto à cultura de massa, do querer ver-se ou não na tela da tv e do cinema, o que vemos é uma idealização de vida da população, que prefere acreditar nos contos de fadas do que encarar as próprias mazelas. (convenhamos, os favela movies já cansaram).
No mais, ótimo texto, bom raciocínio e me proporcionou alguns bons minutos de boa leitura nessa manhã enfadonha.
Bjo